Foto : Rede Globo
O súbito cancelamento de Malhação é mais uma prova de que a Globo tem pressa para fazer mudanças profundas em sua grade de programação. Apesar de ainda ser líder de audiência na maior parte do dia em todo o país, a rede não vê com bons olhos a diminuição progressiva do número de televisores ligados com o passar dos anos.
Para os executivos da emissora, há a necessidade cada vez mais urgente de reconquistar o público que está deixando de assistir televisão regularmente para consumir plataformas de vídeo sob demanda. Internamente, o canal vê que seu principal rival na atualidade é a queda do consumo televisivo: as pessoas estão desligando a TV, e não indo para outras emissoras.
Há alguns meses, um estudo encomendado pela Globo apontou um crescimento no interesse do público por atrações ao vivo e por temas factuais, independentemente de estarem correlacionados ou não com assuntos jornalísticos.
Nas últimas semanas, a emissora já havia iniciado movimentações nesse sentido: o Domingão, apesar de ainda atravessar sua fase tapa-buraco, foi colocado no ar com blocos ao vivo justamente para causar a sensação de que é um conteúdo quente, e não algo requentado. Em diversas afiliadas, a agora cancelada Malhação perdeu espaço para a chegada de boletins dos telejornais locais, com o intuito de barrar o crescimento das edições locais do Cidade Alerta, da Record.
Apesar de ainda ser vista como um celeiro de novos talentos para a dramaturgia, Malhação já havia se transformado em um produto deficitário. O formato da novela teen sobreviveu durante 27 temporadas, mas dava sinais de cansaço antes mesmo da interrupção forçada pela crise sanitária, e os índices de ibope já não eram os mesmos de outrora — o folhetim era alvo de incontáveis reclamações das parceiras da rede. O faturamento também não era dos melhores: as temporadas da trama raramente conseguiam patrocinadores e ações de merchandising.
O fim da marca Malhação será apenas um marco simbólico na história da Globo. A essência da trama seguirá viva em outros projetos da empresa: sinopse e roteiros das próximas temporadas, que já estavam pré-aprovadas pela direção, vão ser reaproveitadas em novos conteúdos do Globoplay, segundo apurou o TV Pop. A plataforma de streaming irá herdar a função de lançar novos autores e artistas para os demais produtos da emissora, inclusive na televisão.
O que vem por aí
Nos bastidores da emissora, dois cenários são vistos como os mais prováveis para a programação vespertina da líder de audiência a partir do próximo ano. Em um deles, haverá a cisão do Vale a Pena Ver de Novo em dois blocos, com a transmissão de duas novelas por vez. Neste cenário, a primeira reapresentação entraria no ar às 14h20, tirando parte da duração do Jornal Hoje — atendendo aos apelos da equipe do telejornal, que tem se queixado da dificuldade de conteúdos para preencher a duração extensa do noticioso. Depois, haverá um programa vespertino (como o possível retorno do Vídeo Show) com cerca de 90 minutos de duração, entregando o horário para a segunda reprise do Vale a Pena — neste caso, o folhetim reprisado seria o responsável pela entrega para a novela das seis, por volta de 18h30.
Na segunda hipótese, uma nova atração vespertina, com cerca de uma hora, seria exibida após o Jornal Hoje, antes de duas novelas do Vale a Pena Ver de Novo..
Neste cenário, a edição noturna dos telejornais locais seria antecipada para às 18h e iria ganhar mais tempo no ar, chegando ao fim por volta das 18h50. Depois, em sequência, seriam exibidas as novelas das seis e das sete, mantendo a programação habitual a partir do Jornal Nacional. Em ambos os estudos, a chance dos filmes da Sessão da Tarde permanecerem no ar é remota: a Globo conta com cada vez menos produções em seu acervo e irá priorizar os espaços cinematográficos do horário nobre e dos finais de semana.
Fora das tardes, a rede também deverá fazer mudanças na programação da madrugada. A emissora aguardará os resultados comerciais do novo formato do Corujão, que transmitirá séries nacionais oriundas do Globoplay, para avaliar se há viabilidade para produzir algo inédito para a faixa horária. Internamente, não é segredo que há uma análise de mercado para a criação de um programa entre o Conversa com Bial e o Hora 1, em um formato unindo conteúdos do SporTV, GloboNews e Multishow.
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